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Sala de Vacina: da volta por cima – @agenciabrasil

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SALA DE VACINA

EPISÓDIO 5: DA VOLTA POR CIMA

EPISÓDIO 5: DA VOLTA POR CIMA

 

[MÚSICA DE ABERTURA]

 

[TÂMARA] Uma montanha russa. É o que parece o gráfico da evolução histórica da vacinação no Brasil.

Quem acompanhou este podcast desde o começo, já sabe como o nosso país se tornou um exemplo de imunização pro mundo inteiro. Entre revolta, ditadura, projetos ousados para vacinar em massa, o surgimento do querido Zé Gotinha e um dos nossos patrimônios públicos: o Programa Nacional de Imunizações.

O PNI está completando 50 anos em 2023, mas desde 2015 esse jovem senhor tem percorrido alguns caminhos tortuosos. Depois de uma longa e consistente subida dos índices de vacinação, acabamos despencando vertiginosamente, ameaçando não só a saúde dos brasileiros, mas essa posição de prestígio global que a gente ocupa. 

Quer um exemplo? 

[EFEITO SONORO NOTICIOSO]

[TÂMARA] Em 2021, apenas 71% dos bebês brasileiros foram vacinados com as três doses da vacina injetável contra a poliomielite. A meta de cobertura para essa vacina é de pelo menos 95%. 

Você já ouviu aqui no Sala de Vacina que a pólio ainda não foi extinta do planeta, apesar da grande maioria dos países não ter casos há décadas. No Brasil, depois de anos de campanhas massivas de vacinação, o último caso foi registrado em 1989. 

Mas justamente pelo fato do vírus ainda existir de forma endêmica em alguns lugares, a única coisa capaz de evitar que a pólio cause surtos novamente é a vacinação contínua com altas coberturas. 

Se a média brasileira já não foi boa, a situação no Amapá foi ainda pior: menos da metade dos bebês foram imunizados na idade correta. Com isso, o estado da região Norte registrou a pior taxa vacinal do país contra a doença naquele ano.

Mas pera ai… 

[EFEITO SONORO DE FREIO BRUSCO]

[TÂMARA] No ano seguinte, o cenário foi completamente diferente: com ŵ95% de cobertura, o Amapá foi um dos únicos estados do país que cumpriram a meta vacinal!

O outro foi a Paraíba, onde menos de 69% das crianças tinham se vacinado no ano anterior.  

As quedas vacinais do Brasil ainda não foram revertidas, mas o exemplo do Amapá e da Paraíba mostra que é possível fazer!

Quer saber como? Então você vai ter que ouvir esse episódio inteiro, porque antes de falar da superação, a gente vai tentar entender a queda. 

[MÚSICA DO PODCAST]

[TÂMARA] EPISÓDIO 5: DA VOLTA POR CIMA

[MÚSICA DO PODCAST]

[TÂMARA] Eu já fiz muitas matérias sobre vacinação, e, antes da pandemia de covid-19, os especialistas eram unânimes em dizer que o principal fator por trás da diminuição dos índices de imunização, observada no Brasil desde 2015, era a baixa percepção de risco.

Vamos continuar usando a pólio como exemplo: durante décadas, ela causou surtos horríveis em várias regiões do país, levando milhares de crianças ao hospital e paralisando muitas delas pro resto da vida. Mas aí a gotinha entrou em cena e a pólio foi varrida do Brasil. E as pessoas deixaram de ter medo de que seus filhos se infectassem pelo vírus, já que agora ele estava erradicado. 

E, com o vírus erradicado, as gerações seguintes também não testemunharam os horrores da pólio. E deixaram de perceber a necessidade de vacinar.

[EFEITO SONORO DE DECEPÇÃO]

[TÂMARA] Paradoxalmente, a eficácia comprovada da vacina acabou se tornando a sua maior fraqueza, na hora de convencer a população a se imunizar.

Lembra do doutor Akira Homma, que apareceu aqui no episódio passado? Ele fala um pouco sobre isso:

[SONORA AKIRA HOMMA] “Esse tem sido o grande problema hoje, eu acho, na vacinação como um todo. A percepção de risco da população caiu muito porque a população não vê mais doença e por que então vacinar? E a população tem outras prioridades. E aí então o que nós precisamos fazer é buscar formas de atender as necessidades dessa população e mostrar a população que é ainda necessário vacinar”.

[TÂMARA] Mas a responsabilidade não é só individual. O Unicef, que é o Fundo das Nações Unidas para a Infância, acompanha atentamente a situação vacinal do Brasil. Até porque, como a gente já contou neste podcast, o sistema de vacinação do nosso país é considerado um exemplo pro mundo, e o próprio Unicef já levou experiências de sucesso nossas para outro países. A Luciana Phebo é a coordenadora do Unicef aqui no Brasil. Ela explica pra gente alguns outros fatores que também têm contribuído pras quedas vacinais.

[SONORA LUCIANA PHEBO] “Com a pandemia, todas as forças de saúde focaram no covid. Com isso, afetou muito a vacinação regular de crianças, e as famílias também tiveram toda uma dificuldade de acessar a saúde por outros motivos que não fosse o covid.

Dois outros pontos: um é a questão de empobrecimento durante a pandemia e pós-pandemia. Essas famílias também estão em maior risco de as crianças não serem vacinadas por falta de tempo para priorizar a vacinação. O outro ponto que eu quero trazer é com relação ao acesso à unidades de saúde. A estratégia de saúde funciona bem, né, quando ela está presente. Mas algumas vezes a estratégia da família ou não existe, essa cobertura naquele lugar; ou existe, mas o agente comunitário ainda não deu conta de fazer as visitas com uma frequência adequada; ou a família nem sabe e ela está contemplada por essa estratégia.”

[TÂMARA] Deu pra entender que a tarefa de recuperar os índices vacinais não é nada simples né? Por isso, além de criar novas campanhas públicas pra estimular a vacinação e trazer de volta o Zé Gotinha e a Xuxa…

[TRECHO DE PROPAGANDA COM ZÉ GOTINHA E XUXA]

– Xuxa! 

– Oi Zé 

– Chegou a hora de convocar nossos Baixinhos e baixinhas para o movimento Nacional pela vacinação.”

[TÂMARA] …o Ministério da Saúde está investindo em ações de microplanejamento. E ninguém melhor pra explicar o que é isso do que a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

[SONORA NÍSIA TRINDADE] “Consiste numa ação nova do Ministério da Saúde, ainda que essa metodologia, preconizada pela Organização Panamericana de Saúde, também esteja acontecendo em outros países. Parte de destinação de recursos para essa finalidade, o Ministério da Saúde destinou R$ 151 milhões para apoio a essa ação, e a ida da nossa equipe técnica do Programa Nacional de Imunizações para trabalhar junto à atenção primária de saúde, junto aos agentes comunitários de saúde, para que haja justamente uma sensibilização. Então esse microplanejamento envolve todas as pessoas importantes em uma comunidade, junto com os profissionais de saúde, de maneira a termos uma mobilização, mas com foco no território, e não algo uniforme para todo o Brasil.”

[TÂMARA] Mas tem outra peça importante desse quebra-cabeça. E quem vai colocar ela no tabuleiro pra gente é o Eder Gatti.

[SONORA EDER GATTI] “Nós temos o ataque sistemático na confiança que as pessoas têm nas vacinas… Temos disseminação de desinformação, fake news, que acontece de forma sistemática e organizada e que, enfim, acaba levando as pessoas a terem medo de se vacinar ou desconfiarem das vacinas. Então esse é um mal muito recente e relativamente pequeno no Brasil, ele começou agora com a pandemia, frente a outros países, como países desenvolvidos que já têm um movimento anti-vacina estruturado, mas isso já causa efeitos sérios nas coberturas vacinais no Brasil.”

[TÂMARA]  O Eder é médico infectologista e doutor em saúde coletiva e medicina preventiva pela Universidade de São Paulo. Por quase uma década, trabalhou no Instituto de Infectologia Emilio Ribas, e também teve passagem pelo Instituto Butantan e pelo Centro de Vigilância Epidemiológica Professor Alexandre Vranjac. O currículo dele traz inúmeros artigos e projetos de pesquisa relacionados à vacinação.

Tudo isso deu estofo pro Eder ser escolhido como diretor do nosso Programa Nacional de Imunizações no começo deste ano. Ou seja, tá nas mãos dele coordenar os trabalhos pra que as políticas de vacinação do Brasil voltem a ser um exemplo mundial.

[EFEITO SONORO GRAVE]

[TÂMARA] Mas sem pressão tá, Eder?

[EFEITO SONORO BRINCALHÃO]

 [TÂMARA] Voltando ao que ele disse: apesar de só terem se fortalecido por aqui durante a pandemia, os discursos anti vacina circulam pelo mundo já há algumas décadas… E mesmo desinformações que foram desmentidas inúmeras vezes continuam reverberando por aí… Olha essa dúvida do Alan Costa, um pai do Distrito Federal. 

[SONORA ALAN COSTA] “Eu queria saber se a vacina tríplice viral aumenta as chances de autismo”. 

[TÂMARA] A associação entre as vacinas e o autismo foi a primeira fake news divulgada pelo movimento anti vacina. Ela começou a circular na década de 80! Mas várias pesquisas, incluindo uma que acompanhou 650 mil crianças, já cansaram de demonstrar que o único efeito importante da vacina tríplice viral é a proteção das crianças contra o sarampo, a rubéola e a caxumba, doenças que podem deixar sequelas graves e até matar.

Mas, recentemente, as redes sociais entregaram um megafone nas mãos dos mentirosos, revivendo essas falsidades antigas e espalhando novas lorotas. De acordo com levantamento do Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando o Movimento Nacional pela Vacinação foi lançado, em fevereiro, houve uma ação coordenada e pelo menos 36 mil perfis replicaram mais de 100 mil publicações com conteúdo antivacina. O Eder Gatti diz que essa movimentação já está sendo monitorada.

[SONORA EDER] “Existe uma ação estruturada por parte do governo brasileiro no sentido de combater a desinformação de forma geral e a saúde tem sido um piloto nisso porque a desinformação é algo que inclusive ameaça a nossa democracia. Então temos aí um programa sim estruturado que vem sendo testado no sentido de identificar ações que disseminem desinformação. Porque a desinformação gera hesitação vacinal, então é uma forma inclusive de nós respondermos a algo que contribui com a queda das coberturas vacinais.”

[TÂMARA] É importante dizer que quem produz essas informações não faz isso por ignorância: tem muito dinheiro envolvido. Sabe aquela primeira fake news que associa as vacinas com o autismo? Ela se fortaleceu depois que um cientista fez uma pesquisa usando apenas 12 crianças em sua análise. O artigo, publicado em 1998 na revista The Lancet, a mais conceituada do meio científico, provocou queda vacinal no Reino Unido.

Anos depois, se descobriu que ele foi pago por advogados que representavam famílias interessadas em processar as farmacêuticas produtoras da vacina. Além do conflito de interesses, a metodologia e os resultados foram questionados. Em 2010, o Conselho Geral de Medicina do Reino Unido cassou o registro do médico, e a revista The Lancet publicou uma retratação, afirmando que “vários elementos” do estudo eram incorretos, e que informações falsas foram repassadas pelos autores à revista.

[TRECHO EM INGLÊS DA RETRATAÇÃO]

[TÂMARA] Hoje em dia, o próprio engajamento das redes sociais já rende dinheiro pros mentirosos. Muitos deles são profissionais de saúde, que esqueceram dos juramentos que fizeram e espalham dúvidas sobre a vacina pra abocanhar essa clientela vulnerável ou vender soros, kits e outros tratamentos alternativos sem eficácia ou até perigosos.

[EFEITO SONORO GRAVE]

[TÂMARA] E o que começa com alguns charlatões inescrupulosos acaba se alastrando. Um estudo ainda em andamento da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Instituto Questão de Ciência, com cerca de mil pediatras brasileiros, já detectou uma hesitação vacinal até entre esses profissionais, que são essenciais para o sucesso da vacinação infantil.

E os dados preliminares confirmam o que o Eder disse agora há pouco: há uma forte correlação entre a crença de que as vacinas contra a covid-19 ainda são experimentais e o temor de que as vacinas não sejam seguras de forma geral.

Ou seja: as fake news sobre as vacinas contra a covid, espalhadas até mesmo por autoridades do governo federal da época, abriram a porteira pra desconfiança entrar. E olha que nós só superamos a pandemia porque as vacinas obviamente funcionaram, sem provocar os terríveis efeitos adversos tão repetidos pelos mentirosos. 

[MÚSICA TENSA]

[TÂMARA] Mas se faltam evidências de danos graves à saúde provocados pelas vacinas, sobram exemplos das consequências nefastas das baixas coberturas vacinais. A gente já falou algumas vezes aqui que o Brasil tem provas disso.

Nós recebemos o certificado de eliminação do sarampo em 2016, mas a taxa de imunização não foi mantida, e em 2018 o país voltou a ter surtos. Nessa época, quase metade dos municípios brasileiros não atingiu a meta de cobertura vacinal. Em 2019 foram mais de 20 mil casos, a maioria entre crianças pequenas.

E, entre 2018 e 2021, 26 crianças com menos de 5 anos morreram de sarampo no Brasil. Uma causa totalmente evitável, já que a doença tinha deixado de existir no nosso país.

A vacina contra o sarampo é a tríplice viral, que também protege contra a rubéola e a caxumba. Esse ano, o Brasil ainda não registrou casos de sarampo, felizmente. Mas eu perguntei pra ministra da Saúde se a situação já está controlada, e olha o que ela respondeu:

[SONORA NÍSIA] “Como surto sim, mas como risco não! Para redução do risco em relação a sarampo, nós temos que alcançar a cobertura que o país já teve. Lembrando que essa cobertura em 2018, já esteve no patamar elevado e antes disso, em 2015, nós tínhamos 90% de cobertura. Ela foi decrescendo, o que aumentou com a pandemia. E agora temos que lutar para essa recuperação. Todas as doenças preveníveis por vacina com baixa cobertura nos preocupam muito, mas o sarampo, pelo risco de alta letalidade, e a poliomielite eu diria que são grandes ameaças.”

[TÂMARA] Como a ministra citou, na pandemia, os índices de vacinação contra sarampo caíram vertiginosamente e, em 2022, o alcance não chegou a 58%.

E a Luciana Phebo, coordenadora do Unicef, traz outro dado bastante alarmante. Cerca de 430 mil crianças brasileiras se enquadram em uma categoria internacional definida como “zero dose”, que usa a vacina DTP como parâmetro. Esse imunizante protege contra difteria, tétano e coqueluche, e é adotado praticamente em todo o planeta, com décadas de uso. Por isso, é um medidor mundial importante.

Então, essa quantidade enorme de brasileirinhos são zero dose porque não tomaram a DTP. Aqui no país, essa vacina começa a ser aplicada aos 2 meses de idade e é incluída na pentavalente, que protege também contra hepatite B e haemophilus influenzae B, causador de um tipo de meningite. Luciana explica que essas crianças zero dose são consideradas de extrema vulnerabilidade.

[SONORA LUCIANA] “Teve uma redução e essa é uma boa notícia. Em 2021 eram 710 mil crianças. Como no mundo também houve uma redução: 4 milhões de crianças foram vacinadas. Mas esse avanço precisa ser acelerado. Se a gente soma os 430 [mil] que não tomaram nenhuma dose de vacina com aquelas que tomaram, mas estão com a vacinação incompleta, esse número em 2022 chega a 600. Coloca o Brasil no ranking dos 10 piores países do mundo com relação ao número de crianças. Estava no sétimo; agora em 2006, tá no oitavo lugar”.

[TÂMARA] Por isso, as estratégias de vacinação elaboradas nos microplanejamentos citados pela ministra da Saúde também apontam uma seta bem grande, vermelha e iluminada para as escolas.

[EFEITO SONORO DE SIRENE]

[TÂMARA] É necessário reforçar a educação pró-vacina, e não só com estudantes, mas também entre os profissionais e os responsáveis. As unidades de ensino também precisam voltar a ser usadas como ponto de vacinação.

[MÚSICA DE TRANSIÇÃO]

[TÂMARA] A estratégia de multivacinação adotada no Amazonas e no Acre desde junho, por exemplo, prevê essas ações. As vacinas oferecidas nas escolas são dT, Febre Amarela, HPV, Tríplice Viral, Hepatite B, Meningite ACWY e covid-19.

Alguns cuidados são tomados. O Ministério da Saúde orienta que é preciso fazer uma ação pedagógica e de divulgação antes de vacinar as crianças, além de pedir a autorização dos responsáveis. Quem não quiser deve assinar um “Termo de Recusa de Vacinação”.

Municípios também têm desenvolvido programas próprios de vacinação escolar. Na capital fluminense, o foco é a vacinação contra o HPV, que protege contra os vírus que são os maiores causadores de câncer de colo de útero. 

A imunização têm maior eficácia se for aplicada antes do início da vida sexual. Por isso, a recomendação do PNI é de aplicação entre os 11 e os 14 anos, para meninas e meninos. São duas doses, a segunda seis meses após a primeira. No ano passado, em todo o Brasil, a cobertura das duas doses no público feminino foi de apenas 57,42%, e não chegou a 28% entre o masculino. O Estado do Rio teve índices ainda piores, registrando a terceira pior cobertura entre os meninos e a segunda menor entre as meninas em todo o Brasil.

Outra estratégia carioca que já tem sucesso comprovado é o Super Centro Carioca de Vacinação, que funciona de domingo a domingo, até 10 horas da noite, pra driblar a dificuldade que muitas pessoas têm de ir a um posto de saúde no horário comercial.

Eu mesma já usei o serviço. Estive lá há algumas semanas, por volta das oito da noite, pra minha filha de 2 anos tomar a dose de reforço contra a covid-19.

[SONORA DA FILHA DA TÂMARA]: “Não dói, não”

[TÂMARA] Dá pra vacinar até sem sair do carro, graças a um sistema de drive-thru. Das mais de 150 mil pessoas vacinadas lá no primeiro semestre, metade procurou o local à noite ou nos fins de semana. E, agora em outubro, a prefeitura começou a testar a instalação de salas de vacina nos shoppings.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, também comemora os resultados do Geovacina. Sabe o GPS do nosso celular, que diz em que lugar do mundo a gente está? É tipo isso, mas mirando nas crianças que não estão vacinadas.

[SONORA DANIEL SORANZ]: “Eu consigo, com o Geovacina, saber quais são as crianças que estão no no Sistema Nacional de Nascidos Vivos, que já poderiam ter tomado a vacina e que não tomaram a primeira dose; eu consigo ver as crianças que tomaram a primeira dose e que ainda não tomaram nem a segunda e nem a terceira dose; e consigo buscar elas no mapa.

Cada pontinho desse é uma criança. Eu consigo saber que essa criança tem esse número do prontuário, e aí a gente entra lá no nosso controle eletrônico e olha qual a criança que é, qual o nome e endereço. Isso permite que o agente comunitário possa entrar no WhatsApp da família e chamar pra gente vacinar. Caso ela não venha, ele pode ir pessoalmente no domicílio, muitas vezes já com a própria vacina, e aplicar a vacina no próprio domicílio.

Então aqui eu consigo ver que a área que tem menor cobertura da saúde da família, hoje, também tem a menor cobertura de vacina. Então é super importante crescer com o programa de saúde da família, que é um programa que está diretamente associado com o Programa Nacional de Imunizações. A imensa maioria das vacinas feitas no Brasil hoje são feitas pelas equipes de saúde da família.”

[TÂMARA] Com todos esses esforços, na cidade do Rio de Janeiro, a imunização contra a poliomielite, por exemplo, saltou de uma cobertura de quase 67% em 2022 para 98% em 2023. A vacina meningocócica C e a pentavalente também subiram para mais de 80%, só que ainda estão abaixo da meta, o que indica que o trabalho tem que continuar. 

Mas você deve estar pensando:

[EFEITO SONORO DE DÚVIDA]

[TÂMARA] …e a história do Amapá, que eu prometi contar lá no começo do episódio? 

Pois ela tem relação com todas as estratégias que a gente falou nesse episódio. Sabe o doutor Akira Homma? Ele é um dos coordenadores do Projeto pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais da Fiocruz, que selecionou dois estados com índices muito ruins de vacinação contra a pólio – o Amapá e a Paraíba -, diagnosticou as causas dessa baixa vacinal e implementou medidas focadas na realidade dos municípios. Parece com o que a ministra disse sobre o microplanejamento, né?

Outra coordenadora do projeto é a doutora Lurdinha Maia, que detalhou as estratégias pra gente. 

[SONORA LURDINHA MAIA]: “A população participa, discute… Nós temos que resgatar o protagonismo do território. O Brasil tem mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, tem fronteiras. O Brasil tem 5.570 municípios com realidades diferentes. A adequação tem que existir, mas sem perder as diretrizes. O nosso projeto trabalha em três eixos: vacinação, sistema de informação e comunicação e educação. O primeiro eixo que é de vacinação é toda uma formação com o profissional que atua, e incorporando mais do que nunca a atenção primária. E não é só sobre habilidade, mas é como é que aquela habilidade de fazer vacinação tem a ver com a participação social dele. Que não é só a sala de vacina: é o agente comunitário quando vai lá na casa olhar o cartão de vacina.. Isso tudo envolve tanto a área do eixo um, que é o de vacinação, como o eixo três, que é de educação e comunicação. E o eixo 2, que é de sistema de informação, a gente detectou todos os problemas: às vezes o município tem quatro sistemas de informação que não se integram, tem perda de dados ali. A gente encontra ainda em planilha, em pedaço de papel… E o Ministério da Saúde tá tomando conta.”

[TÂMARA] Mas além de tentar consertar o rumo que o país estava seguindo, o Programa Nacional de Imunizações também precisa pensar no futuro.

[MÚSICA DE TRANSIÇÃO]

[TÂMARA] Como a gente sentiu na pele durante a pandemia de covid-19, novas doenças com potencial destrutivo podem surgir a qualquer momento. Felizmente, os estudos para o desenvolvimento de novas vacinas não param, inclusive para tentar controlar doenças que já trazem muitos problemas, como a dengue, uma velha conhecida dos brasileiros. 

[MOSQUITO ZUMBINDO]

[TÂMARA] Um relatório publicado em julho pela Organização Mundial da Saúde apontou que o continente americano está passando por um grande surto da doença este ano, e o país mais afetado é o Brasil. No primeiro semestre, foram mais de 2,3 mil notificações graves da doença, com 769 mortes. A quantidade de casos no Brasil cresceu 73% em relação à média dos últimos cinco anos.

A gente tá careca de saber que uma forma eficaz de controlar os surtos de dengue, e também de zika e chikungunya, é evitar que o mosquito Aedes aegypt se reproduza, eliminando os focos de água parada, que é onde ele coloca seus ovos. Mas essa medida sanitária, além de depender de um esforço constante de toda a população, não protege as pessoas de desenvolverem a doença caso elas sejam picadas por um mosquito infectado. Daí a importância de uma vacina. 

E sabe de uma coisa? Ela já existe!

[EFEITO SONORO DE COMEMORAÇÃO]

[TÂMARA] Por enquanto, a única vacina aprovada para uso no Brasil é a QDenga, fabricada pela farmacêutica japonesa Takeda. Ela foi aprovada pela Anvisa em março, e já é oferecida pela rede privada. Mas ainda não se sabe se ela vai ser incorporada ao Sistema Único de Saúde, apesar da ministra da Saúde reconhecer que uma das maiores prioridades de inclusão no PNI é uma vacina contra a dengue. 

É que essa decisão não é feita só pelo Programa Nacional de Imunizações. Pra qualquer vacina, tratamento ou medicamento ser oferecido pelo SUS, é necessária a aprovação da Conitec, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. A inclusão da Qdenga já está sendo estudada. Mas essa análise não se baseia só na necessidade da população. Eder Gatti explica: 

[SONORA EDER] “São avaliações que olham se a vacina – primeiro – ela é segura e ela de fato funciona. Segundo: o produtor precisa garantir abastecimento seguro para que o programa continue funcionando e não tenha problemas de desabastecimento, uma descontinuidade do abastecimento. E é preciso garantir preço, para que seja viável a aquisição de tal tecnologia. Essa avaliação é feita pela Conitec, e obviamente o programa participa dessa discussão, porém a gente obedece o que é definido pela Conitec”.

[TÂMARA] Mas como a gente falou no episódio 2, que se chama Do Frasco, em breve o Brasil pode ter mais opções, porque uma vacina nacional contra a dengue, e outra contra a chikungunya, estão sendo produzidas pelo Instituto Butantan. As duas já estão na última fase de testes. A expectativa é que no início do ano que vem a instituição encaminhe para a Anvisa o pedido de registro da vacina contra chikungunya. E o pedido da vacina da dengue deve seguir lá para o meio de 2024. 

O PNI também já está elaborando uma proposta de inclusão da vacina contra a covid-19 no calendário básico já no ano que vem. Ela deve entrar na rotina para crianças menores de 5 anos, e com doses de reforço periódicas para grupos de risco, como idosos, pacientes com sistema imunológico debilitado e as gestantes.

Mas vamos lembrar: 

[EFEITO SONORO DE DESTAQUE]

[TÂMARA] Os especialistas sempre enfatizam que a vacinação é uma estratégia de saúde coletiva, um pacto que todo mundo tem que fazer para proteger a população inteira.

Claro que um único indivíduo vacinado vai ter muito menos chance de ser infectado por uma doença, mesmo no meio de uma pandemia. Mas apenas quando a vacinação atinge níveis muito altos é que o agente causador da enfermidade deixa de ser transmitido. E isso pode impedir que ele sofra mutações e se fortaleça – e, quem sabe, a doença pode ser até erradicada!

Por isso, a meta de quase todas as vacinas do Programa Nacional de Imunizações é chegar a 95% do público alvo. A responsabilidade por garantir que essa meta seja atingida também é coletiva, como bem lembra a ministra da saúde, Nísia Trindade.

[SONORA NÍSIA] “E o que nós vemos infelizmente é que muitas pessoas confundem, distorcem o conceito de liberdade, dizendo que tomar vacina é uma questão de liberdade individual. Não é! Tomar a vacina é uma questão de responsabilidade, ao mesmo tempo individual e coletiva porque o impacto para o sistema de saúde é imenso. Nós queremos o bem-estar das pessoas, mas a situação de adoecimento tem um impacto econômico enorme. Por isso, é muito mais econômico prevenir do que remediar”.

[TÂMARA] Então vamos explicar direitinho o papel de cada um:

– É dever do PNI comprar as vacinas na quantidade adequada, distribuí-las por todo o país com regularidade e organizar campanhas que orientem a população;

– É dever dos estados e dos municípios realizar a vacinação, providenciando locais adequados e profissionais capacitados;

– É dever de todos esses poderes identificar e combater os entraves que atrapalham a vacinação;

– É dever dos órgãos de proteção à infância verificar a situação vacinal de crianças e adolescentes e garantir que seu direito à saúde seja cumprido;

– É dever dos profissionais de saúde recomendar e facilitar a vacinação, além de verificar a caderneta de seus pacientes;

– É dever dos formadores de opinião disseminar informações verdadeiras e confiáveis;

– É dever dos empregadores possibilitar que seus empregados tenham tempo para se vacinar e vacinar seus filhos;

– E é dever de cada um de nós manter a própria vacinação e daqueles que estão sob nossa responsabilidade em dia. E,claro, espalhar a mensagem da vacinação. Não apenas por nós, ou por nossos filhos e familiares, mas por toda a sociedade brasileira. 

[MÚSICA “GENTE”, DE CAETANO]

[TÂMARA] Em 1977, Caetano Veloso, que é um artista que eu gosto muito, cantou que gente é pra brilhar, não para morrer de fome. E eu ouso complementar: também não é para morrer de doença evitável por uma simples agulhada. Adoecer por um vírus ou bactéria que já poderia estar varrido do mapa, se toda a sociedade voltasse a confiar na vacina. Que, assim como Caetano, é um símbolo do país.

Aliás, falando em máximas nacionais, a gente sabe que o brasileiro não desiste nunca. Então vamos aprender com Paulo Vanzolini:

[MÚSICA DE PAULO VANZOLINI]

[TÂMARA] … . Combinado?

[MÚSICA DE ENCERRAMENTO PARA ENTRADA DOS CRÉDITOS]

[TÂMARA] O site do Ministério da Saúde (www.gov.br/saude) disponibiliza todos os calendários básicos, com a idade certa para tomar cada dose.

Esse foi Sala de Vacina, um podcast do jornalismo da Rádio Nacional e da Radioagência Nacional. Foi muito bom fazer essa jornada com você.

Todos os episódios são encontrados no site radioagencianacional.ebc.com.br e também aqui nesta plataforma.

Ainda temos interpretação simultânea em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, tanto no Spotify como no YouTube.

Eu sou a Tâmara Freire, responsável pela ideia original, produção e reportagem da série. E contei com a colaboração de Vinícius Lisboa, repórter da Agência Brasil, para muitas dessas entrevistas.

Quem faz a edição e pós-produção pra esse podcast chegar até você é a Sumaia Villela e Beatriz Arcoverde.

A identidade sonora e a sonoplastia do podcast são feitas pelo Jailton Sodré. A gravação é feita por Tony Godoy e a equipe de operação de áudio da EBC.

A coordenação de processos é da Beatriz Arcoverde.

A estratégia de publicação e a distribuição nas redes sociais são assinadas por Liliane Farias e Raíssa Saraiva. A identidade visual e o design são de Caroline Ramos.

E o nosso obrigada de sempre ao Darlan Rosa por deixar o Zé Gotinha aparecer na identidade visual do Sala de Vacina.

Agradecemos também ao professor de inglês Tiago Nascimento pela leitura de trecho da retratação da revista The Lancet a respeito de estudo falho sobre vacina.

Voltando para os créditos: a equipe da EBC faz a interpretação em Libras, com direção de vídeo de Lorena Veras e captação de imagem de Daniel Hiroshi. A montagem da versão em vídeo é de Felipe Leite e Fernando Miranda.

A gente se despede fazendo um pedido pra todo mundo que chegou até aqui: espalhe a palavra da vacina. Poucas coisas no planeta conseguiram mudar tão drasticamente a expectativa e a qualidade de vida da humanidade quanto a imunização em massa. Com a sua ajuda, vamos voltar a ser exemplo mundial!

[MÚSICA DE ENCERRAMENTO]

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Acesse esta notícia no site da Agencia Brasil – Link Original

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