Hipótese de acúmulo de gelo em asa de avião que caiu em Vinhedo é explicada por especialistas; entenda
Especialistas em segurança de voo avaliam que a formação de gelo sobre as asas pode ser uma das hipóteses a ser investigada no acidente com o avião turboélice da Voepass que caiu em Vinhedo (SP). Inicialmente, a companhia aérea noticiou que 61 pessoas tinham morrido após a queda do avião. Na manhã de sábado (10), o número de mortes subiu para 62.
Todos os especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em afirmar que não existe um fator único que cause um acidente e que ainda é prematuro tirar conclusões a partir dos vídeos ou das informações divulgadas.
Os primeiros relatos de que havia condições para formação severa de gelo na rota do voo circularam em mensagens de áudio nas redes sociais, e elas foram atribuídas a pilotos. Além das mensagens, um comandante que voou na região confirmou, em entrevista ao jornalista Rodrigo Bocardi, que as condições meteorológicas eram de formação severa de gelo e vento.
Entretanto, as condições severas não configuram um impedimento para a operação das aeronaves. O avião turboélice modelo ATR-72-500 opera em altitude na qual é comum a formação de gelo, mas possui equipamentos para evitar que o acúmulo da água congelada afete a capacidade de sustentação.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que não houve comunicado de emergência dos pilotos para os órgãos de controle.
Possível impacto do gelo no voo
Em entrevista à GloboNews, o especialista em segurança aérea e mecânico de aviação Lito Souza lembra que, embora a possibilidade tenha sido apontada por causa do relato de outros pilotos que voaram em rotas pelo interior de São Paulo, a aeronave tinha equipamentos para evitar o acúmulo de gelo.
Caso houvesse a formação de gelo nas asas por falha na operação ou no funcionamento, os cristais de gelo iriam se acumular sobre as asas e afetar a capacidade de voo.
“O ar começa a turbilhonar e o coeficiente de sustentação da asa diminui. Esse é o perigo”, explica o especialista.
“Esse avião possui caixas pretas tanto de voz quanto de dados do voo, então vai aparecer claramente se o gelo foi um fator, vamos ter essa informação nas caixas pretas de temperatura do ar externo. Vai se chegar à raiz dos problemas que levaram a esse acidente”
O engenheiro aeronáutico e professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Geraldo Portela, afirma que ainda é cedo para identificar a causa do acidente, mas que a formação de gelo pode provocar queda de aeronaves.
“A asa tem um perfil aerodinâmico e o acúmulo de gelo lá no ponto de ataque, geralmente, na frente da asa pode fazer com que esse avião perca as características aerodinâmicas que ele tem e torná-lo mais difícil de voar. Portanto, se ele estiver em velocidade mais baixa, pode ser que ele caia. Agora, o que que levou isso daqui?”, disse Portela.
“É muito arriscado antecipar essa informação. É uma possibilidade só. Assim como outras, algum defeito mecânico, não posso te afirmar. Agora, com uma certeza eu tenho, esse avião caiu ‘estolado’ em parafuso.”
O perito e especialista em acidentes aéreos Roberto Peterka lembrou em entrevista à GloboNews que o avião entrou em estol, naquilo que chamam de queda em “parafuso chato”, quando avião perde totalmente sustentação e cai na vertical.
“Alguma coisa deve ter acontecido e provável é a formação de gelo que acumula nas asas. E aí, perde o perfil aerodinâmico de sustentação e cai. Ele teria que ter mais altura para conseguir recuperar a aerodinâmica da asa para conseguir continuar no seu voo. Ele tem todos os equipamentos para isso. Isso tudo a investigação vai ver, esses alertas, velocidade que estava. A troca de informações na cabine. Tudo isso vai juntar para identificar quais foram os fatores que provocaram o acidente”, explica Peterka.
Fonte: g1/ML